Ano lectivo em atraso na Centralidade de Cacuaco

Portas das escolas fechadas, sem carteiras e quadros, capas de processos com os documentos dos alunos matriculados no chão, alguns encarregados sentados no pátio e outros ainda consultam as listas fixadas em contraplacados, é o cenário que persiste na Centralidade de Cacuaco. Depois de um mês do início das aulas em Angola.

Os cerca de 200 alunos matriculados nas escolas da Centralidade de Cacuaco continuam sem estudar. Um incidente registado no princípio do ano condiciona o arranque do ano lectivo naquelas paragens. Segundo os moradores, as escolas deviam ser entregues a gestão da Administração de Cacuaco pela Sonangol Imobiliária e Propriedades como entidade construtora, esta entendeu entrega-las a uma entidade da Igreja Católica, representada pelo Padre Apolónio Graciano. Enquanto as aulas não arrancam, as encarregadas de Educação como Claudeth Pacheco, mostram-se desolada e lamenta a falta de aulas dos seus educandos. “Não temos informações exactas do que se passa, ouvimos nas conversas entre vizinhos de que a gestão das escolas foi entregue a Igreja Católica”. Como mãe “fico triste e sem palavras quando a cada amanhecer os filhos perguntam o dia que vão estudar”, ilustrou.

Ana Marisa, encarregada de Educação de quatro filhos, considera a situação de “difícil e complicada”. Os dela bem como dos outros moradores “querem estudarem e em casa estão a desaprender, o estudo faz falta”, rematou. Também não tem informação concreta a cerca do assunto, “há pessoas que dizem que as escolas vão ser comparticipadas, uns que a Sonip ainda não as entregou e outros que dizem que os estabelecimentos pertencem a Igreja Católica, não existe certeza”.

Walter Manuel, outro pai preocupado com o ensino do filho, falando em nome dos vizinhos agudizou que “os moradores desta centralidade estão tristes”. Os “nossos filhos têm a ânsia de estudar, estão a ver esse direito consagrado na constituição Angolana e reconhecido pela Unesco a ser negado”. Confirma haver uma “confusão entre a Sonip, Igreja Católica e a Repartição de Educação de Cacuaco”, que não entende a razão.

As escolas ainda não foram equipadas com carteiras nem quadros. Nunca foram abertas e as matriculadas das crianças realizaram-se por iniciativa da Repartição de Educação de Cacuaco, que não os quis deixar sem a frequência escolar. No último encontro realizado entre a comissão de moradores e administração de Cacuaco, Rosa Janota Dias, administradora havia prometido a instalação de tendas caso a situação persistisse para garantir o acesso a ensino aquelas crianças.

Augusto Adão Cabunde, chefe da Repartição de Educação do Cacuaco, é de opinião que as Centralidades foram construídas com dinheiro público, “é um património do Estado”. Por isso, entende que todas as infraestruturas sociais que dai surgirem devem ser entregues aos respectivos ministérios, “para que as instituições locais criem condições de funcionamento das mesmas”. “Criamos condições para o arranque do ano lectivo, mas, no decorrer do trabalho surge o Padre Apolónio Graciano como entidade promotora das escolas daquela centralidade”. “As pessoas que vivem nas centralidades pagam a água, luz, jardinagem e arrendamento. Também vão pagar mais a escola, é dever do Estado garantir ensino gratuito da primeira a 6ª classe”. Tendo um promotor, “cobrará propinas e não aceitamos isso, tanto como servidor público bem como cidadão”. “A Sonip tem responsabilidades nesta situação, quando incumbe a gestão das Escolas a uma entidade como da Igreja Católica que até é muito organizada, devia faze-lo por intermedio da irmã Conceição que é a responsável das escolas da Igreja e não como fez”, lamentou.

Uma fonte junto do Padre Apolónio Graciano, que não quis ser identificada confirmou a entrega da gestão das escolas, mas garante que o “processo será revisto nos próximos dias para que as crianças não percam o ano lectivo”. Todavia, o Bispo da Diocese de Caxito Dom Jaka avançou que vai reunir brevemente com as pessoas visadas para por termo a situação.

Maria Freire, administradora adjunta de Cacuaco, informou que foi criada uma equipa que integra funcionários da Sonip, da repartição de Educação de Cacuaco e da administração municipal, que está a trabalhar na criação de condições para que as aulas arranquem ainda este mês de Março. “A Sonip foi apenas uma empresa construtora da Centralidade e agora ficou a promessa de as escolas serem cedidas as autoridades locais”, prometeu.

Por sua vez, Arnalda Van-Dunem, representante da Sonip junto da equipa de trabalho, quando questionada do porque da não entrega da gestão da Centralidade de Cacuaco a administração local, respondeu apenas que “estamos a trabalhar e os moradores podem esperar resultados deste trabalho”, e nada mais avanço. Um més depois do arranque das aulas no ensino geral, as crianças da centralidade de Cacuaco continuam a espera.

José Dias

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